
6 pequenos poemas
2019-2020




poem 1
Key Pussy
acrylic on wood, keys, keychain, 25x15cm, 2019




poem 2
Love you till the last leaf falls
carved bonsai, 23x18x43cm, 2019



poem 3
dad autocorrected to sad
ballpoint pen on notebook paper, fridge magnet, 15x21cm, 2003/2019




poem 4
Ícarus tattooed on Ícarus arm
drawing made on transfer paper directly onto museum wall, 29 x 42 cm, 2020




poem 5
to measure my body one needs to know how to hold me
satin ribbon, variable dimensions, 2017-2020




poem 6
agora já não é mais
marker, wooden shelf, metal braces, 60x30x27cm, 2020
exhibition:
Três pedras n’água para um círculo perfeito

Um indivíduo senta em uma ponte ao lado de um amontoado de pedras de rio. De tempos em tempos ele pega três pedras da pilha e as arremessa todas de uma vez na água. Próximo a ele há outra pessoa com uma câmera fotográfica mirando as pedras no momento em que afundam. Essa cena acontece por horas e horas e aparentemente não se sabe o objetivo de tudo isso além de conseguir um círculo perfeito imaginário formado pelo desenho das pedras n’água. Agora substitua pedras de rio por bolas laranjas, água por ar e um círculo perfeito por uma linha reta.
Em Jogando com três bolas no ar para obter uma linha reta (1973), o artista John Baldessari nomeia essa série fotográfica em razão da ação realizada para produzir tais imagens. Outros trabalhos como Andando de maneira exagerada ao redor do perímetro de um quadrado (1968), de Bruce Nauman, e Caminhando (1964) de Lygia Clark trazem títulos, processos e imagens que implicam em um fazer casualmente experimental, sem pretensões de serem geniais e muitas vezes percebidos como ações sem sentido. É justamente nas décadas de 60 e 70 - aqui e lá fora - que o fazer artístico serviu como tema e discussão de uma vasta produção de tal período. A partir dessa época a arte é cada vez mais percebida e criada à sua maneira, ou seja, ela não precisa ser justificada por qualquer outro campo do conhecimento. Artistas inventam métodos sem qualquer desejo de obter uma conclusão ou provar algo.
Durante vários meses dez artistas, uma curadora e um arte-educador compartilharam e acompanharam processos criativos, desde as primeiras ideias até os trabalhos finalizados. Ao longo desses encontros e conversas foi possível perceber o fazer artístico a partir de devaneios, experiências e visualizações como iniciativas para uma prática sem um percurso dado, de maneira que criar é estar atento e em relação com o próprio processo - mesmo quando a vontade é de se ausentar dele. Em uma de várias conversas sobre arte, a artista e professora Carina Weidle fala sobre quando seus alunos “pedem uma mão” para criar um trabalho. Ela comenta que “se for para pegar na mãozinha será para levá-los para a piscina funda e deixá-los lá”.
Então o que seria essa piscina funda? Já que o processo artístico não se trata de uma linha reta que vai de A a B porque cada trabalho traça seu próprio percurso de existência, é possível assimilar o ato criativo como um mergulho - uma situação de constante prática para estar submerso. Requer mapeamento, fôlego, equipamentos e movimentação peculiar, pois a percepção torna-se instável embaixo d’água. Os trabalhos desses artistas carregam os percursos de cada um. Suas visualizações, escutas, diálogos, influências, pausas, escolhas e modos específicos buscam saciar e criar novas questões para gerar novos mergulhos - ciclos ininterruptos que não tem a missão de servir a qualquer finalidade.
Marina Ramos,
Curadora
2020